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domingo, 25 de dezembro de 2016

Estamos criando monstros


Por: Mônica Raouf El Bayeh em 



- A criança que vocês adotaram não combinou muito porque ela é pretinha e lugar de preto é na África.
A “pretinha” que não combina é Titi. Uma menininha negra, linda, estilosa, filha de Giovana e Bruno Gagliasso. Titi não combina com seus pais? Que isso! Onde está escrito? Quem determina? Quem dita as ordens do coração? Combinação de amor não é de cor, é de alma.
Essa frase cruel foi postada no Twitter de Giovana Ewbank por um perfil falso feito por uma adolescente de quatorze anos. No perfil, o nome e a foto de uma prima. Que sofreu horrores. Foi ameaçada. E já não podia nem sair de casa.
A adolescente se incomodou? Não. Ao contrário. Se bobear, até gostou. Não era isso que ela queria? Zoar? Incomodar? Fazer sofrer? Conseguiu.
Como teve coragem de provocar pessoas que nada de mal lhe fizeram? Com que finalidade? Com a simples finalidade de acabar com o sossego de pessoas. Na ilusão de se vingar dos que, ela julga, serem mais felizes ou mais amados que ela.
Ela queria zoar. Fala sem culpa. Sem remorsos. Atacou tranquilamente porque se julgava bem escondida. Atitude dos covardes. Com a certeza de impunidade que seus quatorze anos de experiência lhe deram. É mergulhada em ressentimento e raiva que ela trama maldades. Ataca. Alfineta. E, escondida em perfil falso, aguarda o circo pegar fogo.
Um pequeno monstro de quatorze anos? Só mais um deles. Estamos cheios deles por aí. São os conhecidos coitadinhos.
Coitadinhos são filhos de pais que passam a mão na cabeça. Justificam falhas graves. Permitem de mais e dizem não de menos. Eles crescem fortes no adubo da impunidade. Vão deixando um rastro de destruição.
Nas escolas, coitadinhos agridem, xingam, destroem, destratam a todos. Você chama os pais. E descobre logo porque os filhos são assim.
Há os que chegam agressivos. E sorriem debochados defendendo seus filhos infratores. Fazem pouco caso de acusações graves. Negam fatos reais e importantes. Duvidam da sua palavra. Invertem o jogo. Acusam você. Você é que persegue o coitadinho. Aliás os professores são sempre os únicos responsáveis pelos erros dos coitadinhos.
Há os que se entristecem. Se encolhem. E dizem que já não sabem o que fazer. Se eles não sabem, o professor com quarenta vai saber?
Coitadinhos são sonsos. Mentem te olhando no olho. Com a cara limpa. Os pais, cúmplices, acreditam em tudo. Não estranham? Nem questionam? Não. Acreditar é mais fácil do que enxergar o monstro que criam.
Você dá dois meses para a criatura fazer um trabalho da sua matéria. Ele não faz. Você, para não se aborrecer com pedidos da coordenação, dá mais dois dias.
- Que tal? Até a próxima aula, pode ser?
Você já fala pedindo esse grande favor. Você cobra. Ele reclama ofendido. Não teve tempo. São pós-graduados em desculpas. Em enrolação.
Ele faz, rapidinho e nas coxas, um trabalho porco. Durante a sua aula. E em folha amassada de caderno. Ou então tem a cara de pau de vir colocar o nome em um trabalho que já tinha sido entregue por outros alunos. Se você não aceita? Mamãe liga. Papai vai na escola.
- Poxa, custa aceitar?
Pais de coitadinhos não educam o filho. Míopes, perdem tempo tentando educar o professor. Não punem o desleixado. Eles punem quem incomoda: o professor. Não é pelo bem das crianças que eles vêm reclamar. É para não serem perturbados.
Pressionam a coordenação. Que pressiona o professor, o lado mais fraco da corda, que, para não perder o emprego, cede.
As escolas deseducam. No medo de perder alunos e diminuir o lucro, fazem vista grossa. E você é obrigado a dar nota para quem nada fez. Não se espante se ele passar por você na escada e rir da sua cara. Provamos a todos que os piores são os verdadeiros vencedores.
Estamos vivendo um momento bem esquisito. Cercados por políticos sem ética, sem moral, sem um mínimo de empatia. Ricos, esbanjando às nossas custas. Fica parecendo, sim, que não há justiça. Que legal é levar vantagem. Que tudo pode. Infelizmente, tem podido, sim.
De coitadinhos crescidos, nosso congresso está cheio. Nossos coitadinhos pequenos têm todos os requisitos para seguir a carreira política no Brasil e serem bem sucedidos.
Lamentavelmente, o mundo tem se mostrando generoso com os perversos coitadinhos. Falta de punição também é prêmio. Recompensados, eles seguem se especializando. E vão crescendo. Expandindo suas maldades nas redes sociais. Quantos jovens já não se mataram por bullying? Estamos criando monstros.
É cruel ter filhos e não querer ter trabalho. Filho dá trabalho. É de pequenino, sim, que se torce o pepino. Educar exige tempo e dedicação. Exige que a gente se debruce em busca de soluções. Gasta tempo, energia, afeto.
Quando a gente se depara com uma situação desse tipo é a hora de parar. De repensar relações. Rever tempo, olhares, afetos. Em reiniciar e refazer. Vida é assim mesmo. A gente acha que está abafando e quando vê, deu bola fora. Acontece em qualquer família. Com a nossa também e o tempo todo.
Essa menina de quatorze anos está pedindo socorro. Essa pode ser uma forma dela dizer que está sofrendo. Que precisa ser mais olhada. Ela é mais uma criança enganada na falsa ilusão de que tudo pode. Que não há lei de retorno. Nada tem volta? Te enganaram, baby. Aguarde, meu bem.
Mas vida é mais do que isso. Mais do que sair atropelando, ofendendo. Zoando sem culpa, nem empatia. Espero que essa menina aprenda com o susto. Que reflita sobre o que vem fazendo. Ela é nova. Tem uma vida inteira para aprender e fazer diferente.
A punição de um filho é punição para os pais também. Porque o que dói em filho, dói em dobro na gente. Muitas vezes quando a vida pune, é uma chance de mostrar que a gente pode fazer melhor.
É preciso parar. Olhar. Enxergar. Dizer que ama. Ficar do lado, mesmo que eles digam que querem ficar sozinhos. É o olhar que enche a alma de afeto e de generosidade. É o olhar amoroso dos pais que ensina a gente a amar. Quando se cria, todo tempo é de recomeço. Que sirva de lição para todos nós.


EXTRA

Acidente no Crato

Acidente agora na perimetral no Crato

Assaltante roubou uma moto e entrou de 
baixo do Guanabara.

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