O juiz federal Sérgio Moro condenou nesta quinta-feira, 15, o pecuarista José Carlos Bumlai, amigo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a 9 anos e 10 meses de prisão por gestão fraudulenta de instituição financeira e corrupção na Operação Lava Jato. O magistrado manteve a prisão preventiva de Bumlai, que voltou ao cárcere no início de setembro.
Bumlai é protagonista do emblemático empréstimo de R$ 12 milhões que tomou junto ao Banco Schahin, em outubro de 2004. O dinheiro segundo o próprio pecuarista, foi destinado ao PT, na ocasião em dificuldades de caixa. Segundo a Lava Jato, em troca do empréstimo, o Grupo Schahin foi favorecido por um contrato de US$ 1,6 bilhão sem licitação com a Petrobras, em 2009, para operar o navio sonda Vitória 10.000. Lula, que não é acusado nesta ação, teria dado a “bênção” ao negócio – o que é negado pela defesa do petista.
Sobre a confissão de Bumlai, o juiz Moro afirmou. “Esclareço que não houve propriamente colaboração, mas confissão, ainda que parcial. Os fatos admitidos por José Carlos Costa Marques Bumlai já haviam sido revelados pelos colaboradores Salim Taufic Schahin e Fernando Antônio Falcão Soares. A colaboração exige informações e prova adicionais. Não houve acordo de colaboração com o MPF e a celebração deste envolve um aspecto discricionário que compete ao MPF, pois não serve à persecução realizar acordo com todos os envolvidos no crime, o que seria sinônimo de impunidade. Salvo casos extremos, não cabe ao Judiciário reconhecer benefício decorrente de colaboração se não for ela precedida de acordo com o MPF na forma da Lei nº 12.850/2013.”
Foram condenados nesta ação penal o ex-tesoureiro do PT João Vaccari Neto (6 anos e 8 meses, regime semiaberto por corrupção passiva), o operador de propinas Fernando Falcão Soares, o Fernando Baiano (6 anos em regime semiaberto por corrupção), os executivos Milton Schahin e Salim Schahin (9 anos e 10 meses de prisão por corrupção e gestão fraudulenta), o executivo Fernando Schahin (5 anos e 4 meses em regime semiaberto por corrupção ativa), o ex-gerente da Petrobras Eduardo Musa (6 anos em regime semiaberto por corrupção) e o ex-diretor da área Internacional da Petrobras Nestor Cerveró (6 anos e 8 meses, regime semiaberto por corrupção passiva).
Delatores do esquema de corrupção e propinas instalado na Petrobras, Fernando Baiano, Salim Schahin, Eduardo Musa e Nestor Cerveró cumprirão as penas acertadas no acordo de colaboração premiada.
O ex-diretor da área Internacional da Petrobras Jorge Zelada, sucessor de Cerveró, foi absolvido do crime de corrupção. O filho de Bumlai também foi absolvido. Maurício Bumlai era acusado de corrupção passiva e gestão fraudulenta. Para o juiz Moro, houve “falta de prova suficiente para condenação criminal”. Salim Taufic Schahin, José Carlos Costa Marques Bumlai e Maurício de Barros Bumlai foram absolvidos do crime de lavagem de dinheiro “por falta de adequação típica”.
Denunciado, Lula se faz de vítima. E nada explica sobre acusações
Petista fez discurso político, atacou o Ministério Público - e sugeriu candidatura em 2018.
Apontado pelo Ministério Público Federal como chefe do megaesquema de corrupção desvendado pela Operação Lava Jato, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva discursou nesta quinta-feira cercado de aliados: e, ainda que tenha falado por mais de uma hora, não emitiu uma explicação para as graves denúncias que pesam contra ele. Lula abriu o pronunciamento dizendo que não falava como político, mas como cidadão indignado. Mentiu. Sua fala foi apenas política: sobraram ataques ao MP e à imprensa. O petista também reforçou a intenção de se lançar candidato em 2018: “A história mal começou. Alguns pensam que terminou. E ainda vou viver muito. Por isso estou me preparando”.
Ao longo do discurso, Lula falou aos seus: ressaltou os feitos do Partido dos Trabalhadores, chamou de ‘seus’ os alunos do Prouni e reforçou o discurso que compara o impeachment de Dilma Rousseff a um golpe. “Tenho profundo orgulho de ter criado o mais importante partido de esquerda da América Latina”, afirmou, já na abertura da fala. Ao final, conclamou os petistas a usar vermelho, cor símbolo da legenda: “Cada petista do país tem que começar a andar de camisa vermelha. Quem não gostar, coloque de outra cor, esse partido tem que ter orgulho”. Aproveitou ainda para atacar a ‘brutalidade’ da Polícia Militar, em uma crítica ao governo Geraldo Alckmin, citado nominalmente quando Lula exaltou o movimento de estudantes secundaristas formado no ano passado.
Embora tenha afirmado que não pretendia fazer de seu pronunciamento um ‘show de pirotecnia’, em referência à apresentação da denúncia contra ele pelo procurador Deltan Dallagnol, Lula foi Lula: chorou, contou histórias e atacou adversários. “Eles construíram uma mentira, como se fosse o enredo de uma verdade, e está chegando o fim do prazo. Já cassaram Cunha, já elegeram Temer pela via indireta, já cassaram a Dilma. Agora precisa concluir a novela. Quem é o bandido e quem é o mocinho? Vamos ao fecho: acabar com a vida política do Lula. Não existe explicação para o espetáculo de pirotecnia feito ontem”, afirmou. “Provem uma corrupção minha e eu irei a pé para a delegacia”, provocou.
Em uma tentativa de defesa que parece ter sido emprestada do dilmês, Lula afirmou: “As pessoas achincalham muito a política, mas a profissão mais honesta é a do político, porque todo ano, por mais ladrão que ele seja, ele tem que ir pra rua e pedir voto”.
Dirigindo-se aos procuradores, pediu respeito à sua família e afirmou: “Por favor, parem de procurar caspa onde não tem, procurem em outro lugar”. “Eu acho que os companheiros que compõem o Ministério Público têm que ficar atentos porque não podem permitir que meia dúzia de pessoas estraguem a história de uma instituição tão importante no país”, prosseguiu. “Me dedicaram um apartamento que não tenho, uma chácara que não é minha, de ser o comandante maior. ‘Eu não tenho prova, mas tenho convicção’”. Também afirmou que está à disposição das ‘pessoas sérias do MP.
Acusado de ter comandado não apenas o petrolão, como também o mensalão, Lula citou o esquema, ainda que indiretamente. “Hoje nós vivemos momento no Brasil em que a lógica não é mais do processo, não é mais os autos, é a manchete, quem é que nós vamos criminalizar pela manchete, quem vamos demonizar. Está acontecendo isso desde 2005. O PT é tido como o partido que tem que ser extirpado da história política brasileira”. Por esquecimento ou má-fé, Lula não disse que o julgamento dos acusados de envolvimento no esquema criminoso levou para a cadeia próceres do partido, como José Dirceu – hoje novamente atrás das grades por causa da Lava Jato.
A fala de Lula foi recheada de esquetes típicos do ex-presidente, como histórias envolvendo líderes mundiais e passagens que ressaltam sua origem pobre. Mas nenhuma frase expôs tanto a humildade de Lula quanto essa: “Eu tô falando como cidadão indignado, como pai, como avô, como bisavô, eu tenho uma história pública conhecida. Acho que só ganha de mim aqui no Brasil Jesus Cristo. Pense num cabra conhecido e marcado neste país”.
Ao contrário do que se viu no discurso de março, quando foi conduzido coercitivamente pela Polícia Federal para depor, Lula fez um discurso mais comedido. Atacou os inimigos de sempre, como de praxe, mas não esbravejou.“Se quiseram matar a jararaca, não bateram na cabeça. Bateram no rabo, e a jararaca está viva como sempre esteve”, disse na ocasião. Nesta quinta, contudo, a jararaca sumiu.
Fonte: Veja Abril
Fonte: Veja Abril
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