O feriadão de São José, Padroeiro do Ceará, terminou sangrento no estado. Ao menos, 62 pessoas foram assassinadas no período compreendido entre a última sexta-feira (16) e a segunda (19). O maior número de homicídios ocorreu no Interior Sul, com 18 casos. Na Região Metropolitana de Fortaleza (RMF), foram mais 17 assassinatos. Na Capital ocorreram 15 execuções sumárias e no Interior Norte outras 12.
Quatro casos de duplos homicídios foram registrados pelas autoridades da Segurança Pública em Fortaleza, no bairro de Fátima; em Caucaia, Cascavel e na zona rural do Município de Tauá, na Região dos Inhamuns. Além disso, quatro óbitos foram registrados em decorrência de intervenção policial (pessoas mortas em confronto com a Polícia Militar).
Em Fortaleza, Capital, 15 Crimes Violentos, Letais e Intencionais (CVLIs) ocorreram nos seguintes bairros: Bom Jardim (2 casos), Conjunto Palmeiras, Cidade dos Funcionários, Planalto Ayrton Senna, Floresta, José Bonifácio, Cidade 2000, Conjunto Esperança, Vila Peri,Fátima (duplo homicídio na Avenida Borges de Melo), Granja Lisboa, Boa Vista e Praia do Futuro II.
Na Região Metropolitana de Fortaleza (RMF), foram registrados 17 assassinatos nos seguintes Municípios: Caucaia (6 crimes de morte), Cascavel (3), Maracanaú (2), Itaitinga (2), Horizonte (2), Maranguape e Pacajus.
Sertão
No Interior Sul, que abrange regiões como Cariri, Vale do Jaguaribe, Sertão Central, Centro-Sul e o Litoral Leste, além dos Inhamuns, foram registrados 18 assassinatos nos seguintes Municípios: Juazeiro do Norte (3 casos), Tauá (3 casos), Beberibe (2), Mombaça, Quixeramobim, Senador Pompeu, Quixeré, Itaiçaba, Cariús, Ipaumirim, Aurora e Crato.
No Interior Norte, que cobre as regiões Norte, Litoral Oeste, Maciço de Baturité, Serra da Ibiapaba, Vale do Curu e Sertões de Canindé, a Polícia fez o registro de 12 homicídios nos seguintes Municípios: Jijoca de Jericoacoara (2 assassinatos), Alcântaras, Pacoti, Pentecoste, Aratuba, Barreira, Paracuru, Madalena, Sobral, Ipueiras e Amontada.
Vítimas
Entre as 62 pessoas assassinadas no feriadão, há o registro de três mulheres entre as vítimas. Uma delas, adolescente de de apenas 14 anos, identificada como Letícia Kelly de Sousa Silva, assassinada a tiros, dentro de casa e na presença de familiares, na noite do último sábado (17). O crime aconteceu no bairro Curicaca, em Caucaia, na RMF. Há suspeitas de uma morte ligada à guerra de facções.
Já na cidade de Tauá, na região dos Inhamuns (a 337Km de Fortaleza), um tiroteio em uma seresta que ocorrida na madrugada de sábado (17), no bairro Alto do Brilhante, deixou quatro pessoas baleadas entre elas, a dona de casa Izabelli Lopes da Silva, que tinha 32 anos. Ela não resistiu aos ferimentos e morreu no local. Cerca de uma hora depois, os bandidos que praticaram o crime morreram também, numa troca de tiros com uma patrulha do Batalhão Raio (BPRaio),na Estrada do Arraial, na zona rural do mesmo Município. Os dois bandidos foram identificados como Rafael da Silva Furtado e Rafael Félix Pinheiro, ex-presidiários.
A terceira mulher morta não foi, ainda identificada. O crime ocorreu por volta de 19h30 no Município de Aratuba, na Região do Maciço de Baturité (a 122Km de Fortaleza). A vítima foi assassinada a golpes de faca por volta de 19h30 de sábado (17).
BALANÇO DO FERIADÃO EM NÚMEROS:
Fortaleza/Capital …………………………… 15
Região Metropolitana (RMF) ………. 17
Interior Norte ………………………………. 12
Interior Sul …………………………………… 18
TOTAL …………………………………………. 62
1.089 pessoas assassinadas no Ceará só neste ano
Mais de mil pessoas foram assassinadas no Estado do Ceará em 2018. O número exato, até o último dia 15, é de 1.089 pessoas vítimas de Crimes Violentos Letais Intencionais (CVLIs), que englobam homicídios, latrocínios e lesões corporais seguidas de morte. No ano passado, o total de vítimas foi de 5.133. Em 2016, houve 3.407 CVLIs. A crescente violência vista por meio dos números oficiais da Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS) modifica a rotina das milhares de famílias das vítimas e de órgãos que prestam auxílio para os parentes. A informação é do Diário do Nordeste.
Passada a morte, restam aos parentes e amigos buscar acolhimento e Justiça. Os reiterados registros de crimes bárbaros fizeram com que, o programa Rede Acolhe, da Defensoria Pública do Ceará, tivesse de reordenar suas atividades a fim de atender a alta demanda das vítimas da violência no Estado.
Criada ano passado com o objetivo de promover a assistência jurídica e psicossocial aos familiares das vítimas de CVLIs ou de tentativa de homicídio, a Rede já auxiliou, pelo menos, 60 famílias. A defensora pública Gina Moura, responsável por coordenar o programa, explica que o acúmulo de assassinatos, principalmente desde o início deste ano, fez com que os servidores ainda não tivessem acesso às dezenas de parentes.
A frequência de crimes bárbaros interfere diretamente no trabalho dos defensores públicos. Devido a grande procura de famílias de vítimas, o órgão ainda não conseguiu chegar aos parentes das sete pessoas executadas na Chacina do Benfica.
"Nós começamos esse ano sem nenhuma quebra (na sequência) de violência. Teve a Chacina de Cajazeiras, em seguida teve o episódio em Itapajé (quando dez presos foram mortos), o triplo homicídio no Parque Leblon (três mulheres foram torturadas e executadas) depois a Chacina do Benfica. Cada vítima a gente precisa trabalhar com muita responsabilidade. Estabelecemos uma metodologia de trabalho e tentamos reordenar as atividades. A realidade mostra essa necessidade e é algo que angustia a nossa Instituição", disse Gina.
Peculiaridades
A coordenadora da Rede Acolhe ressalta que o perfil dos mortos nos últimos crimes de grande repercussão no Estado foge do perfil estereotipado. Nos últimos episódios de matança, muitos dos assassinados sequer tinham passagens pela Polícia, como visto nas chacinas da Cajazeiras e Benfica.
"Muitas dessas vítimas não tinham perfil de criminoso, e independente disso tratamos com respeito a cada uma delas. Vítima é vítima, e elas precisam ser respeitadas. Cada chacina dessa tem uma demanda muito específica. Todas as vidas importam, mas cada uma tem peculiaridade própria. Com relação às vítimas das Cajazeiras, estamos agindo em parceria com a assistência social do Município. Iniciamos atendimento no dia seguinte ao episódio. O que posso dizer é que algumas dessas famílias estão desamparadas porque perderam suas maiores referências", contou a defensora pública Gina Moura.
Para a defensora, a proporção que a criminalidade tomou resultou em uma maior necessidade de proteger as famílias em vulnerabilidade e testemunhas dos crimes letais. "Aumentou o número de pessoas que precisam de proteção, o que é a nossa prioridade. É preciso que elas possam prosseguir. Nós precisamos agir de forma articulada e há uma falta de estrutura e de profissionais em números suficientes", afirmou.
De acordo com a Defensoria Pública do Ceará, o acesso à Rede Acolhe pode ser feito por meio de encaminhamento dos assistentes sociais de Fortaleza, assim como cada família pode procurar diretamente pelo programa. A assistência prestada está vinculada ao Núcleo de Atendimento ao Preso Provisório e Vítimas de Violência (Nuapp) do órgão.
Na tarde de ontem, a reportagem entrou em contato com a assessoria da SSPDS a fim de obter informações sobre as ações voltadas à redução dos CVLIs. Porém, até o fechamento desta edição, não havia recebido nenhuma resposta.
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