Prefeituras de municípios do Ceará que receberam vacinas da Oxford/Astrazeneca contra a Covid-19 negam que tenham aplicado as doses fora do prazo de validade dos lotes. Um levantamento do G1 mostra que cerca de 26 mil pessoas no Brasil podem ter sido afetadas com o vencimento das vacinas.
Veja abaixo o que dizem os governos municipais de algumas cidades cearenses.
Um levantamento baseado no cruzamento de dados oficiais do governo federal, onde aponta que ao menos 26 mil pessoas podem ter recebido doses vencidas da vacina Astrazeneca. O trabalho dos pesquisadores Sabine Righetti, da Unicamp, e Estêvão Gamba, da Unifesp, foi publicado nesta sexta-feira (2) pelo jornal "Folha de S. Paulo".
O estudo aponta que 60 municípios cearenses teriam aplicado doses dos lotes vencidos. Entre elas, Potengi, Fortaleza e Guaraciaba do Norte seriam as mais afetadas com 173, 63 e 60 vacinas aplicadas após o prazo, respectivamente. No estado todo o número chegaria a 710 vacinas, sendo 419 do lote 4120Z005, 290 do lote CTMAV505 e uma do lote 4120Z001.
Fortaleza
A Secretaria Municipal da Saúde de Fortaleza (SMS) informa que distribui a vacina contra a Covid-19 de forma rápida para os centros de vacinação, a partir do recebimento, não armazenando por longo período as doses na Rede de Frio Municipal. Em relação aos 63 casos citados como possíveis aplicações fora do prazo de validade, a SMS ressalta que pode ter ocorrido alguma inconsistência no sistema ou erro de digitação.
O lote 4120Z005 ASTRAZENECA/OXFORD foi recebido entre os dias 25 de janeiro e 10 de fevereiro, e distribuído até o dia 14 de fevereiro para os centros de vacinação. A SMS ressalta que o frasco da vacina Covishield (Fiocruz) de 10 doses, distribuído naquele período, após aberto deve ser consumido em até 6h, o que impossibilita que ele tenha permanecido nos centros de vacinação após sua validade, em 14 de abril de 2021.
Já o lote CTMAV505 - ASTRAZENECA/OXFORD, onde consta um único caso de possível erro, teve sua total distribuição para os centros de vacinação em 12 de maio, o que também inviabiliza o consumo após o dia 31 de maio, data da sua validade, tendo em vista o prazo para utilização após a abertura do frasco.
Potengi
O secretário da saúde de Potengi, Francisco Marques, disse que a informação inicial recebida da regional de saúde é que o município devia aguardar informações da Secretaria da Saúde do Ceará (Sesa) sobre como agir. (Veja abaixo o que o órgão informou).
Porém, a informação preliminar é de que, no sistema, o lote CTMAV505, com vencimento em 31 de maio de 2021, estaria com validade para 31 de maio de 2022, ou seja, o erro estaria no rótulo.
“A informação que a gente tem é que, apesar da impressão do rótulo estar a data do mês cinco, ano 21, no [Sistema de Insumos Estratégicos em Saúde] Sies, que é o sistema de informação, consta que esta data é de 2022. Erro de impressão no rótulo”, informou o secretário municipal.
Icó
A Prefeitura de Icó informou que, diante dos dados que constam nos registros oficiais do Ministério da Saúde sobre as mais de 700 doses vencidas da vacina AstraZeneca, aplicadas em 60 municípios do Estado do Ceará, que a maioria das doses aplicadas, de acordo com as informações do MS, corresponde ao lote do Instituto Serum, identificado como “4120Z005”, vencido no dia 14 de abril.
O Município garante que aplicou 34 doses do lote correspondente entre 28 de janeiro e 5 de fevereiro, período dentro da validade das vacinas.
Assaré
O governo municipal de Assaré informou que tem “segurança que nenhuma vacina foi administrada fora do prazo de validade”. A Prefeitura revela que, ao receber doses novas, não estoca as vacinas, programando imediatamente momentos de vacinação.
A Prefeitura esclarece também que cada cidadão vacinado no município pode averiguar o lote do imunizante, com a data de vencimento no cartão de vacina e conferir com a data que tomou o imunizante.
Secretaria estadual garante normalidade
A Secretaria da Saúde do Ceará (Sesa) garante que não distribuiu vacinas fora da validade. O órgão informa que recebeu dois lotes de imunizantes contra a Covid-19 que possivelmente passaram da validade, mas desde que recebeu as primeiras doses, no dia 18 de janeiro de 2021, o estado tem distribuído os imunizantes a todos os 184 municípios com logística desenvolvida por meio de aviões, helicópteros e caminhões.
A Sesa controla o envio das vacinas até sair do Central de Armazenamento e Distribuição (Ceadim) do Estado e orienta os municípios sobre a validade das vacinas.
Confira as datas de recebimento e distribuição dos lotes:
4120Z005 ASTRAZENECA/OXFORD
Recebido: 23 de janeiro de 2021
Vencimento: 14 de abril de 2021
CTMAV505 - ASTRAZENECA/OXFORD
Recebido: 26 de março de 2021
Vencimento: 31 de maio de 2021
O Ministério da Saúde informou que houve um erro na embalagem das doses da Vacina SARS-COV2 - Laboratório AstraZeneca (Lote: CTMAV505). Apesar de as doses terem vindo direto do laboratório produtor (AstraZeneca), na embalagem primária e secundária consta vencimento em 31/05/2021. No entanto, nas notas de fornecimentos do SIES o prazo de validade está 31/5/2022. A informação da Rede de Frio Nacional é de que a validade correta é 31/05/2022.
G1/CE
Bolsonaro volta a criticar Coronavac e erra ao dizer que o imunizante não deu certo
O presidente Jair Bolsonaro voltou a atacar na noite desta quinta-feira (1º) a Coronavac – imunizante produzido pelo instituto Butantan com uma farmacêutica chinesa– e errou ao dizer que a vacina "não deu certo".
Ao ler uma notícia sobre casos de infecção da variante Delta entre populações vacinadas, Bolsonaro afirmou: "Abre logo o jogo que tem uma vacina aí que infelizmente não deu certo. Abre logo o jogo. Eu estou aguardando aquele cara de São Paulo falar", em referência ao governador de São Paulo, João Doria (PSDB), seu adversário político e padrinho político da Coronavac.
"Não deu certo essa vacina dele infelizmente no Chile. Aqui no Brasil também parece que está complicado. Torcemos para que essas notícias não estejam certas, parece que infelizmente não deu muito certo", disse o presidente, em sua live semanal transmitida em redes sociais.
Escolhida para abrigar estudo idealizado pelo Instituto Butantan sobre os efeitos da imunização em massa com a Coronavac, a cidade de Serrana (SP) viu as mortes em decorrência da Covid-19 e os novos casos da doença despencarem.
E mencionado por Bolsonaro, o Chile é líder em vacinação contra a Covid-19 na América Latina e avalia implementar a aplicação de uma terceira dose de imunizante para reduzir os números de contágios, mortes e internações, mas a maioria dos internados não foi vacinada.
Para a infectologista chilena María Luz Endeiza, o uso de uma terceira dose pode ser necessário, mas ainda há tempo para que o impacto da vacinação seja sentido. "Algumas mudanças já ocorreram. Hoje 85% dos internados em UTI são não vacinados e também são mais jovens, o que significa que as vacinas têm tido como resultado, por ora, em reduzir morte entre os mais idosos. Agora, é preciso avançar de acordo com a mudança da situação e da chegada das novas variantes."
Para a chefe do departamento de epidemiologia da Universidad de los Andes de Santiago, é preciso reforçar as medidas de restrição. "As pessoas estão perdendo o respeito às medidas e não ficam em casa", afirma.
Não é a primeira vez que Bolsonaro ataca a Coronavac. No ano passado, disse que não acreditava que a vacina transmitia credibilidade "pela sua origem" e usou como justificativa que "esse vírus [Covid-19] teria nascido" na China. Antes, ao determinar a suspensão de um contrato de compra de 46 milhões de doses da Coronavac pelo Ministério da Saúde, Bolsonaro se referiu ao desenvolvimento da imunização como "a vacina chinesa de João Doria".
O imunizante atualmente corresponde a 45% das doses aplicadas no Brasil, segundo dados do Ministério da Saúde. Foi o responsável pelo início da campanha de vacinação em janeiro e tinha fatia maior, já que as doses dos demais laboratórios começaram a chegar em quantidade significativa apenas posteriormente.
A Coronavac tem taxa de eficácia geral de 50,38%. O índice da AstraZeneca é de 70% e o da Pfizer/BioNTech, 95%, mas, segundo especialistas, as taxas de eficácia, divulgadas pelas desenvolvedoras das vacinas, não podem ser comparadas diretamente porque cada estudo tem sua metodologia própria e, principalmente, um período de desenvolvimento do ensaio clínico distinto. E uma mesma vacina pode obter dados diferentes se forem feitos estudos com metodologias distintas.
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Coronavac (desenvolvida pelo laboratório chinês Sinovac e produzida no país em parceria com o Instituto Butantan):
Tecnologia: utiliza a tecnologia de vírus inativado, similar à da vacina da gripe. O coronavírus Sars-CoV-2 é modificado para que se torne não infectante;
- Intervalo entre as doses: de 21 a 28 dias;
Eficácia: a vacina apresentou eficácia global de 50,38% no estudo de fase 3 conduzido no Brasil quando as duas doses foram aplicadas em um intervalo de 14 dias e de 78% para casos de Covid que necessitam de internação. Dados mais recentes desse estudo mostraram, porém, que a eficácia global subiu para 64% quando a vacina foi aplicada com mais de 21 dias de intervalo entre as doses, prazo que tem sido recomendado pelo Butantan;
Efeitos colaterais: por ser uma vacina de vírus inativado, os efeitos colaterais são, em geral, leves e esperados. Cerca de 70% dos efeitos reportados foram dor no local da injeção e dor no corpo;
- Em quanto tempo oferece proteção: a partir de dados divulgados de estudos em outros países, sabe-se que a Coronavac induz uma resposta imune moderada com uma única dose, e a proteção até 14 dias após a primeira dose é baixa comparada às vacinas de mRNA (Pfizer e Moderna), por exemplo. Dados da resposta imune induzida após a vacina para o ensaio clínico da Coronavac no Brasil ainda não foram divulgados.
Fonte: Folhapress via Notícias ao Minuto
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