O assunto foi matéria do Fantástico da Rede Globo, exibido na noite deste domingo (17). Segundo a reportagem, os pesquisadores participam de um estudo nacional sobre a Covid-19, e têm enfrentado ameaças, no trabalho de porta em porta.
Em alguns casos, os profissionais foram tratados como criminosos. Foi o que aconteceu na cidade de Iguatu, no Centro Sul do Estado, na última quinta-feira (14). Um grupo de 16 pessoas que trabalhavam no município foram confundidos como golpistas e levados para a Delegacia Regional de Polícia Civil, foram interrogados e todo material foi apreendido pela Vigilância Sanitária da cidade.
A mesma situação aconteceu no Pará, em Santarém, além de prender quem aplicava os testes, a polícia pôs a perder testes e equipamentos de proteção individual, manuseados sem cuidado.
Uma pesquisadora, que ficou presa durante horas sob suspeita de fraude, ficou traumatizada: “muito medo. Eu tive medo de ser linchada publicamente’.
O Ministério da Saúde diz que avisou as secretarias estaduais - e algumas não se deram ao trabalho de passar a informação adiante, para os municípios. Desinformação e trapalhadas burocráticas não foram a única razão das agressões e prisões.
O estudo está sendo feito em 133 cidades brasileiras, de todos os estados e do Distrito Federal. Em cada cidade, 250 pessoas são testadas. Até sábado (16), sete cidades já tinham completado todos os testes - três delas no Amazonas, um dos estados com maior número de casos.
Mortos por Covid-19 no Brasil passam de 15 mil; número sobe 50% em uma semana
Neste sábado (16), o país chegou a 15.633 vítimas e 233.142 casos confirmados. Foram 816 novos óbitos registrados em 24 horas e 14.919 novos registros.
O Brasil levou 53 dias, a partir da primeira morte por coronavírus, para ultrapassar a marca de 10 mil vítimas (no último dia 9). Mas foi necessária somente uma semana para superar os 15 mil mortos. Neste sábado (16), o país chegou 15.633 vítimas e 233.142 casos de Covid-19, de acordo com os dados do Ministério da Saúde. Foram 816 novos óbitos registrados em 24 horas e 15.633 novos casos.
Somente em São Paulo, 4.688 pessoas morreram em decorrência da infecção, e o Estado já superou o número de vítimas da China (4.637), onde a pandemia começou em dezembro. Em número de casos, o Brasil ultrapassou Itália e Espanha e agora é o 4º em mais casos no mundo. De acordo com levantamento da Universidade Johns Hopkins, Itália tem 223.885 casos e a Espanha, 230.698.
A curva da epidemia está rapidamente acelerando no país, em um crescimento exponencial, bem no momento em que o governo Bolsonaro aumenta a pressão para a redução das medidas de isolamento. Para especialistas, deveríamos estar na direção contrária, adotando o lockdown, sob o risco de testemunharmos uma tragédia.
“Nesse ritmo, no dia 20 devemos passar de 20 mil mortos. Não estaríamos assim se estivéssemos tomando medidas mais adequadas de contenção. Mas se mesmo isso for perdido, e o presidente conseguir quebrar as restrições que municípios e Estados estão adotando, vamos ver esses números crescerem ainda mais rapidamente”, afirma o físico Domingos Alves, da USP de Ribeirão Preto.
O pesquisador integra o grupo Covid-19 Brasil, uma força-tarefa de cientistas de mais de 10 universidades brasileiras que atua desde o início da epidemia no Brasil monitorando casos e fazendo previsões de crescimento a partir de técnicas de ciências de dados. A estimativa é que a taxa de crescimento possa ficar cinco vezes mais rápida que a atual se for implementado um isolamento mais brando, como proposto por Bolsonaro.
Pelos cálculos do grupo, se todos os municípios com mais de 80% de ocupação dos leitos de UTI implementarem lockdown, e aqueles com entre 60% e 80% de lotação adotarem medidas mais restritivas, com mais de 70% da população em isolamento, o número de óbitos deve só começar a cair entre o fim de julho e o começo de agosto.
“E ainda estamos falando que por aquele momento já teremos algo em torno de 80 mil óbitos”, estima.
Segundo ele e outros especialistas ouvidos pelo "Estado", o país ainda não chegou ao pico – entendido como o momento de máximo de casos, que depois vão começar a decrescer – e é difícil estimar quando exatamente isso deve ocorrer, mas o nível de crescimento atual preocupa.
“A epidemia não funciona como acidentes geográficos onde há montanhas com picos bem determinados. Saberemos quando foi o pico quando ele tiver passado. Estamos em uma curva ascendente de quase mil óbitos por dia com grande probabilidade de nos aproximarmos das mortes dos países europeus em 15 dias”, afirma o epidemiologista Paulo Lotufo, da USP.
(Estadão Conteúdo)
Foto: Michael Dantas / AFP
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