Esse número pode ser ainda maior, pois há pessoas que não denunciaram os casos aos órgãos públicos com receio de sofrer represálias.
Um drama vivenciado por quem mora em regiões de Fortaleza dominada por facções criminosas: o de serexpulso de casa sob ameaças de morte. De acordo com a Defensoria Pública do Estado do Ceará, nos últimos 12 meses, pelo menos 133 famílias passaram por essa situação.
Entretanto, esse número pode ser ainda maior, pois há pessoas que não denunciaram os casos aos órgãos públicos com receio de sofrer represálias. É o caso de uma mulher de 38 anos, que há três meses foi expulsa de casa por criminosos junto com seus cinco filhos.
Até o momento, ela não fez nenhum Boletim de Ocorrência. A mulher tem medo de retaliação por parte das facções.
Crimes desse tipo ganharam evidência neste ano. No último mês de janeiro, moradores da comunidade da Babilônia, no Barroso, tiveram as paredes de suas casas pichadas com mensagens de “ordem de despeso”. Caso não cumprissem, teriam suas casas incendiadas ou morreriam. Assustados, os moradores decidiram obedecer a ordem.
De lá para cá, outros casos foram registrados, mas em locais diferentes. O caso mais recente aconteceu no bairro José Walter, quando um casal foi expulso no início deste mês de agosto. Os dois foram obrigados a deixar o apartamento, no condomínio Cidade Jardim, sob ameaça de morte. O casal morava no imóvel havia 15 dias.
De acordo com um levantamento feito pela Defensoria Pública, esses casos não são isolados. Nos últimos 12 meses, cerca de 133 famílias foram expulsas de casa após serem ameaçadas por facções criminosas. Entretanto, esse número pode ser ainda maior, pois há vítimas que ainda não fizeram nenhum tipo de denúncia.
Já em inquérito civil instaurado pelo Ministério Público Federal (MPF), no último mês de julho, 52 famílias beneficiadas pelo programa Minha Casa Minha Vida foram retiradas a força do residencial José Euclides Ferreira Gomes, no bairro Jangurussu. O órgão junto com o Ministério Público do Estado do Ceará (MPCE) emitiu uma ação judicial para garantir às famílias do programa Minha Casa Minha Vida direito à posse dos imóveis.
Diante desse cenário, a Secretaria de Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS) informou, por meio de nota, que trabalha na expansão do policiamento 24 horas em conjuntos habitacionais que estão sendo alvos de facções criminosas. De acordo com a pasta, em Fortaleza, existem pelo menos 16 bases policiais, que vão se transformar em unidade integradas de policiamento. Até o momento, 21 pessoas foram presas por serem suspeitos de atuar nesse tipo de ação criminosa.
Expulsas de casa
A mulher entrevistada pelo Tribuna do Ceará estava chegando em casa após um dia de trabalho quando criminosos apareceram armados ordenando que saíssem do imóvel. Segundo ela, o tempo dado pelos criminosos foi o suficiente para pegar alguns documentos. Saiu só com a roupa do corpo. Assustada, foi se abrigar na casa da mãe. “Graças a Deus, meus filhos não estavam em casa. Eles (criminosos) falaram que, se a gente não saísse de lá, iríamos morrer”, relembra.
Entretanto, ela não é a única da comunidade do Caroço, na Praia do Futuro, a ser expulsa. Outras seis famílias também tiveram o mesmo destino. Hoje, a diarista desembolsa mensalmente R$ 350 para pagar o aluguel por um imóvel no bairro Vicente Pinzón.
Com uma renda de um salário mínimo, ela é desafiada todo o mês para sustentar seus cinco filhos com o pouco que resta. “A gente está passando dificuldade. Falta alimento, a mistura, sabe?! Aí tem água, luz para pagar. Eu sou a única fonte de renda”, lamenta.
Além do preço do aluguel, ainda precisa desembolsar o dinheiro do transporte para o trabalho devido ao novo endereço. Antes, não era preciso. Ia a pé. “Quando vou trabalhar, ando com medo”, comenta. A sua esperança e de outras famílias que estão na mesma situação é a intervenção do poder público para reintegrar a posse de seus imóveis. “Nós só queremos que as autoridades públicas fizessem alguma coisa”, ressalta.
*O total de família expulsas foi atualizado pela Defensoria Pública de 131 famílias para 133.
(Tribuna do Ceará)
Sem bloqueio de celular, crimes continuam sendo ordenados de dentro de presídios
A Justiça já determinou a implantação dos equipamentos, mas até agora nada foi feito. Enquanto isso, os crimes continuam sendo orquestrados dentro e fora das unidades.
A suspeita de que a execução de três policiais, na semana passada, tenha sido ordenada de dentro de um presídio trouxe à tona uma discussão antiga: por que ainda não foram instalados os bloqueadores de telefonia nas unidades prisionais do Ceará?
A Justiça já determinou a implantação desses equipamentos, mas até agora nada foi feito. Enquanto isso, os crimes continuam sendo orquestrados dentro e fora das unidades.
Em 2016, 26 policiais foram mortos no Ceará, segundo o Anuário Brasileiro de Segurança Pública. No ano passado, foram 25 agentes. Este ano já são oito, incluindo os três policiais mortos na Vila Manoel Sátiro na última quinta-feira (23).
Existe uma hipótese de que a ordem para matar policiais na semana passada tenha partido de dentro de um presídio, embora não se tenha ainda essa confirmação. No mês passado, uma série de ataques a ônibus e prédios públicos também teria sido determinada direto da prisão após uma ação da polícia civil, que deixou mortos três homens acusados de crimes contra instituições financeiras.
Ainda na semana passada, a TV Jangadeiro mostrou que a maior chacina da história do Ceará nasceu dentro do sistema prisional. Noé de Paula Moreira, o Gripe Suína, é apontado pelo Ministério Público como idealizador da chacina, mesmo já estando preso quando o crime ocorreu.
Entre os sete mandantes denunciados, dois homens também estavam presos. Deijair de Sousa Silva, o líder da facção criminosa, estava solto à época da chacina. Mas, em 2013, foi detido por tráfico de drogas e conseguiu sair com uma liminar de soltura supostamente comprada. O alvará teria sido negociado por celular dentro do presídio.
A TV Jangadeiro teve acesso ao conteúdo de uma interceptação telefônica a respeito da negociação, em julho de 2013, entre um advogado e um outro acusado beneficiado com a liminar:
O preso pergunta se seria naquele dia ou no dia seguinte, numa possível referência à data em que seria beneficiado com uma decisão judicial. O advogado então responde que seria no dia seguinte. Os dois passam a tratar sobre valores. O advogado diz que ficou de entregar o pedido feito e os negócios, papel e dinheiro. O preso então confirma que o negócio ficou fechado em 15, número que – segundo a investigação – faz referência ao valor de R$ 150 mil. E o advogado confirma que sim.
Desde que começou a se discutir sobre bloqueadores de telefonia nos presídios do Ceará, criminosos atuam com atos de represália ao estado, como um carro-bomba deixado ao lado do prédio da Assembleia Legislativa do Ceará, em 2016, quando a Casa aprovou uma lei proibindo as operadoras de fornecer sinal de telefonia em unidades prisionais.
Essa lei foi derrubada pelo Supremo Tribunal Federal. Em 2 de março deste ano, a justiça determinou que, em 180 dias, o Estado implantasse o bloqueio de sinal de celular em presídios. O prazo termina em setembro. O governador diz que espera que a lei seja votada no Congresso Nacional.
Para o advogado Walmir Medeiros, que é oficial da reserva do Exército, o bloqueio de celulares em presídios é fundamental para o controle do crime organizado e pode ter auxílio das forças armadas. Além do bloqueador de telefonia, o presidente do Conselho Penitenciário, Cláudio Justa, afirma que é preciso voltar a atenção para a entrada de celulares nas prisões e para o bloqueio de sinal de internet.
Fonte: Tribuna do Ceará
Fonte: Tribuna do Ceará
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