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quarta-feira, 3 de março de 2021

COVID-19: Sem controle, Brasil caminha para superar EUA e gera preocupação mundial


O crescimento no número de casos no Brasil, a incapacidade do governo de implementar medidas para frear o vírus e os temores de que a variante brasileira comece a se espalhar acendem um alerta global.

Em reuniões fechadas da OMS (Organização Mundial da Saúde), a situação brasileira é tida como "preocupante" e projeções já apontam que, se não houver uma mudança profunda na forma de o Brasil lidar com a crise, o mês de março poderá terminar com o país superando os EUA em número de novas infecções e, eventualmente, em termos de mortes diárias.

No que se refere aos números totais desde o início da crise há um ano, o território americano continua sendo o mais atingido, com 28,2 milhões de casos de pessoas infectadas, seguido por 11,1 milhões na Índia e 10,5 milhões no Brasil.

Depois de seis semanas de queda no número de novos casos globais, a OMS indicou que a semana passada viu um novo aumento nas infecções em quatro das seis regiões do mundo. Mas a curva começa a sofrer uma transformação e o Brasil surge como um dos focos de maior alerta, não apenas pelo comportamento do vírus, mas também pela insistência das autoridades em negar a necessidade romper as cadeias de transmissão.

Em meados de dezembro, os americanos registravam 1,6 milhão de novos casos por semana, contra 326 mil no Brasil. Nos últimos sete dias, de acordo com as contas da OMS, foram 471 mil novos casos nos EUA, contra 378 mil no Brasil. Nesse ritmo, as cidades brasileiras poderão ocupar o primeiro lugar em poucas semanas. Hoje, a população americana supera a marca de 331 milhões de pessoas, contra 211 milhões no Brasil.

Em termos de mortes, os americanos superavam a média de 18 mil novos mortes por semana em dezembro de 2020, contra 5.200 no Brasil. Nos últimos sete dias, os dados mostraram uma tendência inversa. Nos EUA, foram 14 mil novos óbitos, contra 8.200 no Brasil.

As disparidades em termos de vacinação também contribuem para uma virada nesses números. Nos EUA, já são mais de 50 milhões de pessoas que se beneficiaram da campanha de imunização, contra menos de 7 milhões no Brasil. Para as próximas semanas, o acesso a novas vacinas também é delicado.

Em negociações, farmacêuticas têm alertado que o governo que fizer um pedido de fornecimento neste momento receberá doses apenas no segundo semestre do ano, na melhor das hipóteses. Quanto às vacinas da Covax, a aliança mundial, o Brasil receberá 9,1 milhões de doses até junho, bem abaixo dos 14 milhões que o Ministério da Saúde havia anunciado em fevereiro.

Na última sexta-feira, o chefe de operações da OMS, Mike Ryan, abandonou sua tradicional diplomacia para alertar que o Brasil vivia uma "tragédia" e que a situação deveria servir de lição ao mundo de que não há como relaxar medidas de controle.

Mas sua fala também evidenciou uma crítica velada ao governo federal. Ao destacar os esforços feitos no Brasil, ele aplaudiu os cientistas do país e os governadores de estados, sem qualquer referência ao Ministério da Saúde ou ao Palácio do Planalto.

Os comentários geraram um mal-estar entre membros do governo brasileiro. No passado, falas da OMS levaram as autoridades nacionais a disparar cartas ao organismo para se defender.

Diplomacia esgotada?

Por meses, a ordem interna na OMS era a de evitar qualquer crítica contra o governo brasileiro, já que o objetivo principal era ajudar o país a superar a crise, oferecendo auxílio técnico, orientação e mesmo materiais.

A coluna apurou que, no auge das críticas de Bolsonaro contra a OMS no primeiro semestre de 2020, a agência mantinha um trabalho no país, sem fazer qualquer tipo de declarações ou alarde. Em troca de um acesso às cidades brasileiras, a opção da agência era a de manter silêncio e não rebater os ataques do presidente.

Bolsonaro, o louco

Dentro das agências internacionais, porém, uma parcela dos técnicos começa a alertar que a estratégia não tem dado resultados. Bolsonaro passou a ser tratado como "louco", enquanto se multiplicam cartas e denúncias da sociedade civil, parlamentares, indígenas, religiosos e ex-ministros pedindo uma reação internacional.

A resposta brasileira também está sendo alvo de uma investigação por parte de um grupo independente, montado pela OMS para avaliar como diferentes governos e ela mesmo deram resposta para a crise. O resultado do inquérito deve ser publicado em maio.

O Ministério da Saúde recebeu um questionário sobre a estratégia adotada no Brasil e tudo o que foi feito, desde janeiro de 2020. Todos os governos membros da OMS foram consultados. Mas, segundo a coluna apurou, as respostas dos países com o maior número de casos vão servir para que o comitê avalie por qual motivo alguns governos conseguiram frear a crise, enquanto outros não tiveram o mesmo sucesso.

Variante brasileira preocupa

Enquanto os resultados da enquete não são publicados, em reuniões técnicas com cientistas e pesquisadores de diferentes partes do mundo, a situação brasileira passou a ser incontornável, principalmente quando o assunto é o fortalecimento da circulação de variantes do vírus no país.

A constatação é de que existe um "apagão" de dados do Brasil sobre a circulação de novas variantes pelo território nacional e uma forte suspeita de que não há controle sobre quem sai do país infectado ou não.

A situação gerou um temor ainda maior depois que estudos indicaram que a variante predominante em Manaus mantinha uma carga viral várias vezes superior à cepa original.

Denominada oficialmente como variante P1, a mutação foi primeiro identificada no Japão, em viajantes brasileiros. Hoje, ela já está presente em quase 30 países e o número cresce a cada semana.

Em seu último informe semanal, a OMS deixou claro que o vírus é predominante em Manaus e em parte da região norte do território brasileiro. "Podemos estar no início do caos", afirmou uma delas, na condição de anonimato.

Na Europa, a situação brasileira também é alvo de uma atenção total, com autoridades em capitais como Paris e Madri instruídas a reforçar o controle sobre qualquer passageiro que tenha passado pelo Brasil.

Neste fim de semana, o governo britânico confirmou a existência da variante brasileira em pelo menos seis pessoas diferentes. Mas a crise para a imagem do país ficou ainda mais aguda depois que as autoridades sanitárias em Londres lançaram uma "caçada" para localizar o indivíduo que não preencheu um formulário de registro de teste ou que não recebeu seu resultado.

Uma das suspeitas pode ser uma pessoa que estava no voo LX318, da companhia Swiss e que deixou São Paulo para Zurique, no dia 10 de fevereiro. Depois de passar pela Suíça, a pessoa embarcou em um segundo voo para Londres.

Se a falta de informação sobre o passageiro levou a oposição britânica a criticar o governo em Londres, ela também despertou um segundo aspecto: a incapacidade do Brasil de saber onde está o vírus e quem está embarcando em seus aeroportos em direção a outras partes do mundo.

"Isso pode significar que a desconfiança em relação ao Brasil vai se aprofundar", alertou um representante britânico, que pediu para não ser identificado.

Informação Uol Notícias

Governadores formam consórcio para compra de Sputnik V; São Paulo comprará 20 milhões de doses


Governadores atuarão em consórcio para comprar doses da vacina russa contra Covid-19 Sputnik V e somente o Estado de São Paulo irá adquirir 20 milhões de doses do imunizante, que ainda não tem registro nem autorização para uso emergencial no Brasil, disse nesta terça-feira o governador de São Paulo, João Doria (PSDB).

Os governadores, que se reuniriam ainda nesta terça com o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), para tratar da gestão da pandemia, visitaram a União Química, farmacêutica sediada em Brasília e que fabricará a Sputnik V no Brasil.

"Muitos governadores estão neste exato momento visitando a União Química em Brasília fazendo a opção de compra da vacina Sputnik, inclusive São Paulo, nosso secretário da Saúde, Jean Gorinchteyn, está lá nos representando e já com a deliberação para compra de 20 milhões de doses da vacina Sputnik", disse Doria em São Paulo, onde acompanhou a vacinação em um drive-thru no estádio do Morumbi.

"Os demais Estados que também estão visitando, todos eles farão suas opções de compra de forma consorciada para que no volume tenhamos um preço menor e cada Estado faz a sua aquisição junto à União Química", acrescentou.

A Sputnik V, desenvolvida pelo estatal Instituto Gamaleya, de Moscou, embora ainda não tem autorização para uso emergencial nem registro no Brasil, já vem sendo aplicada na Rússia e em outros países, como a Argentina.

Em Brasília, o governador do Piauí, Wellington Dias (PT), disse após uma reunião com a União Química que a farmacêutica entregou os documentos para obter autorização para uso emergencial junto à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).

"Aqui acertamos para ter um empenho tanto do lado da União Química, com a Sputnik, com o apoio do Ministério da Saúde, com a Anvisa, para que a gente tenha as condições de até a próxima semana ter posicionamento dessa aprovação por parte da Anvisa", afirmou Dias.

"Aqui também o compromisso de, com a autorização emergencial março, abril, no máximo maio, entregam os 10 milhões de doses já contratados com o Ministério da Saúde", acrescentou o governador do Piauí.

Dias afirmou que os governadores pediram à União Química que apresente um cronograma de produção de doses da Sputnik V até no máximo a próxima semana. Ele disse que a expectativa da companhia é iniciar a produção industrial da vacina em abril.

O Instituto Butantan, vinculado ao governo do Estado de São Paulo, está envasando em suas instalações doses da CoronaVac, vacina contra Covid-19 do laboratório chinês Sinovac que já está sendo aplicada na campanha nacional de vacinação contra a Covid-19.

O Butantan totalizará até agosto a entrega de 100 milhões de doses do imunizante ao Programa Nacional de Imunização do Ministério da Saúde. Há possibilidade de mais 30 milhões de doses até o final do ano, nos quais a pasta já mostrou interesse, mas cuja venda Doria condicionou ao fim da cláusula contratual de exclusividade do Butantan com o ministério.

Além disso, Doria disse em entrevista à Reuters no mês passado que autorizou o Butantan a comprar mais 20 milhões de doses da CoronaVac para serem aplicadas em São Paulo. Nesta semana, o governador paulista disse que o Estado irá comprar doses de outras vacinas caso o Ministério da Saúde não consiga suprir a necessidade de vacinas para os paulistas.

Informação Yahoo Notícias

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