Na tarde desta quarta-feira (23), o governador do estado de São Paulo, João Doria (PSDB), afirmou que 94,7% dos mais de 50 mil voluntários testados na China não apresentaram nenhum efeito adverso à vacina CoronaVac. A Coronavac, imunizante contra a Covid-19 criado pela chinesa Sinovac e que será produzida em conjunto no Brasil pelo Instituto Butantan, se mostrou segura em seu teste da chamada fase 3 em 50 mil voluntários na China.
Os dados do estudo foram apresentados nesta quinta (23) pelo governador João Doria (PSDB), o diretor do Butantan, Dimas Covas, e um representantes da farmacêutica chinesa.
Já os resultados sobre a eficácia, que nas fases anteriores foram considerados satisfatórios, devem estar prontos em novembro. Se esse cronograma se mantiver sem percalços, a expectativa no governo paulista é de uma liberação para vacinação em dezembro.
Segundo o estudo chinês, houve apenas 5,36% de efeitos colaterais nos participantes do ensaio, todos sem gravidade: dor no local da aplicação (3,08%), fadiga (1,53%) e febre leve (0,21%). Os restantes tiveram perda de apetite, dor de cabeça e febre.
"A segurança e eficácia são dois dos principais fatores para comprovar se uma vacina está pronta para uso emergencial na população. Estamos muito otimistas com os resultados que a Coronavac apresentou até o momento", afirma Covas.
A Sinovac testa seu imunizante em 10 países, e foi aprovada para vacinação emergencial no seu país de origem. No Brasil, 5.600 dos 9.000 voluntários em 12 centros de pesquisa de cinco estados e do Distrito Federal já receberam ao menos uma dose da vacina.
Se a Coronavac se provar eficaz, São Paulo irá protocolar na Anvisa, a agência de vigilância sanitária do governo federal, um pedido para liberação emergencial da campanha de vacinação. A expectativa é que isso seja possível já no último mês do ano.
Apesar de a vacina ser um trunfo político para Doria, adversário do presidente Jair Bolsonaro e potencial rival em 2022, no governo paulista a avaliação é de que a Anvisa não irá travar o processo de liberação.
Ainda não há detalhes sobre os estudos e acerca de quais grupos seriam vacinados inicialmente –profissionais de saúde são candidatos óbvios.
Um lote de 5 milhões de vacinas chegará da China em outubro. Até dezembro, haverá 6 milhões de doses importadas prontas e outras 40 milhões formuladas a partir de insumos chineses no Butantan, o que cobre toda a população paulista.
Outras 55 milhões de doses devem estar disponíveis no primeiro semestre de 2021. Depois da vacinação em São Paulo, se o imunizante estiver aprovado, o plano é ofertar a Coronavac para outros estados e até países da região.
A nova fábrica de vacinas do Butantan começará a ser construída no mês que vem, e terá capacidade para produzir 100 milhões de doses anuais. A distribuição fora de São Paulo pode ocorrer em acordos pontuais ou depender de um arranjo com o governo Bolsonaro.
Ocorre que, além da rixa política que pode atrapalhar o plano, o Ministério da Saúde tem um contrato para fabricação na Fundação Oswaldo Cruz da vacina inglesa da empresa AstraZeneca e da Universidade de Oxford.
Aí o problema é de outra natureza. A vacina inglesa também está em testes da fase 3, mas houve já duas interrupções nos ensaios devido ao surgimento de efeitos colaterais graves localizados em duas pessoas.
Os testes continuam.
A vantagem da Coronavac sobre a inglesa é que ela utiliza uma tecnologia antiga e comprovada para provocar a resposta imune, utilizando o novo coronavírus desativado. É assim que funcionam imunizantes contra a gripe, por exemplo.
Já a inglesa apostou em uma tecnologia nova, na qual material genético do Sars-CoV-2 capazes de estimular a imunidade são transportadas usando um adenovírus que causa gripe em macacos. Essa técnica é vista como arriscada por um concorrente de ambas as vacinas, o Instituto Gamaleya, da Rússia.
Fabricante da vacina Sputnik V, já em produção concomitante a testes, o laboratório usa no seu produto um adenovírus humano para o transporte -algo já feito em um imunizante contra o vírus ebola e em tratamentos para câncer.
Se tudo der certo, São Paulo será um dos primeiros lugares do mundo a ter uma campanha de vacinação. contra a Covid-19, que matou 34 mil paulistas até aqui, o maior contingente dos 137 mil óbitos no país. A China e a Rússia pretendem começar suas campanhas antes do fim do ano.
A OMS (Organização Mundial da Saúde) adota cautela, afirmando que é preciso ter certeza da segurança e eficácia dos produtos com amplos estudos. E diz que uma imunização global poderá demorar até dois anos, se não mais.
Desemprego sobe 27,6% em quatro meses de pandemia
A população desocupada no Brasil, que era de 10,1 milhões em maio, passou para 12,3 milhões em julho, e, em agosto, atingiu 12,9 milhões de pessoas, um aumento de 27,6% desde maio. A taxa de desocupação aumentou em 0,5 ponto percentual de julho para agosto, passando de 13,1% para 13,6%. Os dados constam da edição mensal da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Covid-19 (Pnad Covid-19) , divulgada ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Em agosto, a Pnad Covid-19 estimou a população ocupada do País em 84,4 milhões de pessoas, com aumento de 0,8% em relação a julho, mas ainda acumulando redução de 2,7% em relação a maio. A Região Sul foi a única a apresentar queda da população desocupada (2,3%). As regiões Nordeste, com 14,3%, e Norte, com 10,3%, apresentaram as maiores variações.
A taxa de desocupação entre as mulheres foi de 16,2%, maior que a dos homens, com 11,7%, sendo que a diferença também foi verificada em todas as grandes regiões. Por cor ou raça, no Brasil e em todas as grandes regiões, a taxa era maior entre as pessoas de cor preta ou parda (15,4%) do que para brancos (11,5%).
Por grupos de idade, os mais jovens apresentaram taxas de desocupação maiores, de 23,3% para aqueles de 14 a 29 anos de idade. Por nível de escolaridade, aqueles com nível superior completo ou pós-graduação tiveram as menores taxas, 6,8%.
Em relação ao auxílio emergencial, a pesquisa mostra que, em agosto, o percentual de domicílios em que pelo menos um dos moradores receberam o dinheiro para combater os efeitos da pandemia foi de 43,9% no País, sendo que as maiores proporções estavam no Norte (61%) e no Nordeste (59,1%). O valor médio do benefício recebido pela população foi de R$ 901 por domicílio.
Entre os tipos de auxílio abordados pela pesquisa estão o emergencial, destinado a trabalhadores informais, microempreendedores individuais (MEI), autônomos e desempregados, e a complementação do governo federal pelo Programa Emergencial de Manutenção do Emprego e da Renda. O Amapá, com 71,4%, foi o estado com maior proporção de domicílios onde um dos moradores é beneficiário de programa de auxílio emergencial, seguido de Maranhão, com 65,5%, e Pará, 64,5%.
"Esse índice ficou estável em praticamente todos os estados. O total de domicílios que receberam auxílio teve um aumento grande de maio para junho e, de junho para julho, praticamente não cresceu, ficando estável em agosto", disse, em nota, a coordenadora da pesquisa, Maria Lucia Vieira.
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